Lembro que uma vez eu estava no busão, que os brasilienses teimam em chamar de “baú”, e um garoto entregou um pedaço de papel com uma mensagem pobre, apelativa e cheia de erros de português. Resolvi mudar aquilo. Peguei caneta e papel, mas nada saiu. Aliás, nada mesmo, nem uma simples correção ortográfica. Pensei com meus botões: que belo criativo, que belo redator!
Alguns meses depois, tive que trocar de lavanderia. Visitei aquelas que ficavam próximas à minha choupana. A mais barata era também a mais escondida. Em cima do balcão estava uma resma de panfletos monocromáticos e mal diagramados. Passeei com os olhos enquanto ela pesava as roupas e reparei que o panfleto não informava o preço. O maior diferencial não estava lá.
Com um leve cagão de estar sendo enxerido, avisei que algumas pessoas do meu prédio estavam à procura de uma lavanderia. Menti. Ninguém havia comentado nada. Aconselhei a colocar o preço no verso do flyer e deixar no correio da negada do prédio. No mesmo dia eles deixaram. (A título de curiosidade somente, estava escrito “LAVA – R$10. LAVA E PASSA – R$ 20”).
Voltei semanas depois e a mulher abriu um sorriso do tamanho do meu saco de roupas sujas. Perguntei se o movimento havia melhorado. Ela disse que estava bem melhor e me agradeceu com toda a sinceridade que uma senhora de idade pode oferecer.
De todos os jobs mortos a cabeçadas, nenhum deles me fez sentir tão útil e satisfeito. O único problema é que eu entrei numa guerra diária. Agora eu quero aquela sensação todos os dias! 😉
Tags: @fabricioide, lavanderia, storytelling
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